Incertezas sobre um mundo incerto

19 19America/Sao_Paulo novembro 19America/Sao_Paulo 2018

De uns tempos para cá, a população mundial começou a aumentar exponencialmente, graças aos desdobramentos da Revolução Industrial. A invenção da vacina, do saneamento básico, do antibiótico e o aumento da produção alimentar, entre várias outras criações humanas, propiciaram que mais e mais pessoas pudessem nascer, sobreviver, procriar e envelhecer, ocupando nesse processo porções cada vez mais vastas do território do planeta.

Isso implicou em sociedades cada vez mais densas, populosas e complexas. Instituições dos mais variados tipos, do Estado republicano e aparatos policiais a sistemas de saúde e políticas de fomento ao emprego, surgiram para possibilitar a convivência territorial de milhões de pessoas, formando assim uma espécie de tecido social, onde cada ser humano funciona como uma célula.

É importante nos darmos conta, porém, como esse tecido social só é possível se manter mediante um certo equilíbrio das coisas. Esse mesmo tecido pode ser rompido a qualquer momento mediante, por exemplo, uma guerra de grandes proporções ou ainda um colapso econômico. Há países no planeta hoje que passam por esse processo ruptura, tais quais o Iêmen, a Síria e a mesmo a Venezuela.

Não à toa, não são raros os receios  sobre uma possível explosão de desordem e caos, fruto de uma implosão do nosso sistema econômico. Marx já havia diagnosticado que o capitalismo, inevitavelmente, estava fadado a entrar em parafuso, o que romperia o tecido social e ocasionaria revoluções. É certo que algumas aconteceram no século 20, mas por diferentes motivos do que os previstos pelo filósofo alemão.

Entretanto, quanto mais velhos e cientes das engrenagens da sociedade ficamos, mais é possível perceber o quão, de fato, nosso tecido social é vulnerável. Como disse Angela Merkel, em recente evento na Europa para celebrar os 100 anos do armistício da 1ªguerra mundial: “a paz não é algo óbvio”.


Transição de Paradigmas

18 18America/Sao_Paulo novembro 18America/Sao_Paulo 2018

Claramente, vivemos em uma era de transição de paradigmas na Comunicação de massa. Muitas das variáveis que antem valiam para esse campo, subitamente (na verdade, gradualmente), pararam de valer. As eleições brasileiras de outubro, que consagraram Bolsonaro ao posto de Chefe de Estado, foram o grande símbolo disso.

Até outubro, a maioria de nós achava que as regras tradicionais ainda prevaleciam. Assim, o papel do tempo de propaganda eleitoral da TV e noticiário dos jornais seriam decisivos enquanto que as fake news e teorias conspiratórias das redes sociais seriam algo de repercussão unicamente de nicho. Além disso, um postulante ao cargo máximo da República também jamais poderia abusar de frases chulas, incoerentes e ignorantes sobre os mais variados temas, bem como não poderia defender uma agenda político-econômica antipovo.

Bom, todos esses pressupostos caíram por terra e isso tem gerado um enorme desconforto entre as pessoas minimamente comprometidas com o bom senso, para não dizer em choque e terror.

Miguel Lago, colunista da Piauí, falou sobre o fim do ciclo histórico do Iluminismo, se referindo ao término do período em que a verdade científica e factual era central para o debate público; antes, predominava a verdade religiosa.

A partir de agora, podemos estar entrando na era em que a predominância é a da versão, em que a verdade é absolutamente relativizada, por mais absurda que seja. Parafraseando a fala de uma entrevistada para um documentário do New York Times sobre fake news: “as coisas ainda vão piorar muito antes de melhorar”.