Moral Hazard

21 21America/Sao_Paulo dezembro 21America/Sao_Paulo 2018

Há um termo consagrado na Economia e importado do vocabulário anglo-saxão chamado “moral hazard”. Trata-se de conceito que designa a tendência de agentes econômicos de adotarem comportamentos específicos motivados pela certeza de estarem imunes a certos riscos.

Exemplos clássicos: moradores que não pagam o IPTU por saberem que poderão renegociá-los futuramente em valores muito mais baixos.

Ou bancos dos Estados Unidos que comercializam contratos financeiros extremamente frágeis por saberem que, se der merda, o governo irá salvá-los (aka Crise de 2008).

Isso acontece o tempo todo, em todo o mundo, e tem raiz na leniência do poder público para com o poder econômico, seja de forma intencional ou não. A consequência disso é o enfraquecimento completo de determinadas leis, regulamentações, aparatos de fiscalização, e, por tabela, do bom andamento das finanças públicas.

Com a notícia de que o próximo presidente da República pretende apoiar o perdão total às dívidas do Funrural, desconfio que a “moral hazard” brasileira será atingirá seus maiores patamares no próximo quadriênio.


Economia

20 20America/Sao_Paulo dezembro 20America/Sao_Paulo 2018

De uns tempos pra cá, resolvi que iria entender Economia. Se não pra virar um especialista em hedge funds e private equities, pelo menos pra entender minimamente as falácias que alicerçam a manipulação diária da GloboNews.

Nesse período, passei a comprar livros, li dezenas de artigos, criei um glossário particular e hoje sou assinante do Valor.

Trata-se de um movimento pessoal que derivou, naturalmente, do interesse pela política na sociedade. E da percepção de dois fatores fundamentais.

O primeiro é o de que 90% da exploração cometida contra nosso povo – como o subdesenvolvimento, a precarização dos serviços públicos, o desemprego estrutural e todas as tragédias sociais subsequentes – advêm da forma como opera o capital em nosso país.

O segundo é o da inexistência de domínio e de interesse pelo tema na esquerda brasileira, que nos últimos anos tem se encastelado em torno de outras pautas, secundarizando as pautas econômico-sociais.

Hoje já consigo travar debates com pessoas minimamente iniciadas no assunto, a ponto de discordar de visões e mesmo apresentar propostas para problemas.

Mas ainda estou bem no início dos meus estudos e tenho muito o que aprender.


“Educação midiática”

6 06America/Sao_Paulo dezembro 06America/Sao_Paulo 2018

Em meio à agonia coletiva de ver como o fenômeno das fake news tem arrastado dezenas de milhões de conterrâneos para visões estapafúrdias e sem sentido da realidade, em detrimento do debate feito de forma séria, embasada e racional, alguns especialistas, jornalistas em sua maioria, têm vendido como possível solução um velho antídoto que também era recomendado quando da época em que nossos problemas se resumiam às manipulações da imprensa burguesa: a famosa “educação midiática”.

Com ela, as pessoas, subitamente, passariam a distinguir com clareza o fato da versão, ou melhor, a informação objetiva da propaganda sem pé nem cabeça.

A proposta, ninguém poderia contestar, é extremamente bela em suas intenções, ainda que totalmente inútil. Ela parte de um pressuposto de que é possível vacinar as pessoas contra a desinformação por meio de algum esforço pensado para esse fim (aulas obrigatórias em escolas? cursos online? Sites de fact-checking?).

Infelizmente, como sói, a realidade acaba sendo mais cruel que os nossos desejos. No limite, essa linha de pensamento acredita ser possível acabar com o efeito da propaganda na sociedade, essa mesma propaganda que é usada não só para manipular eleições como para incutir desejos de consumo. Ainda que isso seja possível de ser feito com poucos indivíduos, crer na massificação do pensamento crítico que nos blinde contra a propaganda, convenhamos, não passa de pura utopia.

A bem da verdade só há um único caminho para enfrentar a questão das fake news e ele atende pelo nome de “regulação pelo Estado”. Mais do que nunca, é preciso definir parâmetros rígidos para o funcionamento redes sociais por onde essas notícias falsas circulam, prevendo, inclusive, a instalação de uma comissão formada por representantes da sociedade que disponha da prerrogativa de remover conteúdo falso da rede logo no início do processo de viralização, evitando assim que o estrago seja causado na sociedade.

Como se pode ver, trata-se de uma proposta muito mais complexa de ser posta em prática e com um potencial de conflito infinitamente maior que a virtuosa “educação midiática”. No entanto, caso queiramos, pra valer, enfrentar o problema das fake news, trata-se da única proposta factível, goste-se dela ou não.