Em meio à agonia coletiva de ver como o fenômeno das fake news tem arrastado dezenas de milhões de conterrâneos para visões estapafúrdias e sem sentido da realidade, em detrimento do debate feito de forma séria, embasada e racional, alguns especialistas, jornalistas em sua maioria, têm vendido como possível solução um velho antídoto que também era recomendado quando da época em que nossos problemas se resumiam às manipulações da imprensa burguesa: a famosa “educação midiática”.
Com ela, as pessoas, subitamente, passariam a distinguir com clareza o fato da versão, ou melhor, a informação objetiva da propaganda sem pé nem cabeça.
A proposta, ninguém poderia contestar, é extremamente bela em suas intenções, ainda que totalmente inútil. Ela parte de um pressuposto de que é possível vacinar as pessoas contra a desinformação por meio de algum esforço pensado para esse fim (aulas obrigatórias em escolas? cursos online? Sites de fact-checking?).
Infelizmente, como sói, a realidade acaba sendo mais cruel que os nossos desejos. No limite, essa linha de pensamento acredita ser possível acabar com o efeito da propaganda na sociedade, essa mesma propaganda que é usada não só para manipular eleições como para incutir desejos de consumo. Ainda que isso seja possível de ser feito com poucos indivíduos, crer na massificação do pensamento crítico que nos blinde contra a propaganda, convenhamos, não passa de pura utopia.
A bem da verdade só há um único caminho para enfrentar a questão das fake news e ele atende pelo nome de “regulação pelo Estado”. Mais do que nunca, é preciso definir parâmetros rígidos para o funcionamento redes sociais por onde essas notícias falsas circulam, prevendo, inclusive, a instalação de uma comissão formada por representantes da sociedade que disponha da prerrogativa de remover conteúdo falso da rede logo no início do processo de viralização, evitando assim que o estrago seja causado na sociedade.
Como se pode ver, trata-se de uma proposta muito mais complexa de ser posta em prática e com um potencial de conflito infinitamente maior que a virtuosa “educação midiática”. No entanto, caso queiramos, pra valer, enfrentar o problema das fake news, trata-se da única proposta factível, goste-se dela ou não.